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O discreto Donald Woods Winnicott e seu legado psicanalítico

Seus estudos com enfoque em crianças e adolescentes e suas relações com os pais contribuíram amplamente para o campo da psicanálise.

Observador atento dos estágios mais primitivos do desenvolvimento emocional, que antecedem a constituição do psiquismo, o inglês Donald Woods Winnicott trouxe inestimáveis contribuições ao repertório conceitual psicanalítico. As ideias embasadas em sua clínica voltada para crianças, adolescentes e pais encontram-se hoje bastante incorporadas à psicanálise contemporânea. Pediatra e psicanalista, vivenciou momentos críticos da política na Europa, tendo destacada participação na Segunda Guerra como consultor do governo inglês para assuntos ligados à infância traumatizada. Acompanhou por vários anos crianças que foram separadas dos pais em meio aos bombardeios alemães (como medida de proteção física e emocional) e levadas a abrigos no interior, sob tutela de outras famílias.

Essa rica experiência fundamentou muito de seu legado teórico e de suas inovações práticas no campo psicanalítico. Em destaque, os conceitos relativos ao estágio de dependência absoluta entre mãe e bebê, bem como as técnicas criativas, a exemplo do “jogo de rabiscos” criado por ele para entrevistar crianças e adolescentes, bastante eficazes nos casos de tendência antissocial, agressividade e delinquência (problemas cujas origens investigou a fundo, abrindo caminho para propostas terapêuticas que têm se mostrado bastante úteis em relação às demandas atuais).

Por mais de uma década foi um dos únicos pediatras a fazer formação em psicanálise. A prática médica, que manteve por 40 anos em hospital infantil de Londres, talvez tenha exigido do psicanalista a objetividade e a clareza que transparecem em sua obra. Contrário a especulações filosóficas (ainda que suas ideias hoje ultrapassem os muros institucionais e seus textos tenham sido lidos por filósofos como Gilles Deleuze, Giorgio Agamben e Axel Honneth), o pensador inglês preferia a linguagem simples, calcada na observação clínica ou cotidiana. A imagem do homem discreto foi a que prevaleceu, em especial pela posição independente que manteve durante o acalorado período de discussões sobre a análise de crianças, envolvendo seguidores de Melanie Klein (com quem fez supervisões) e Anna Freud, nos anos 40 na Sociedade Psicanalítica Britânica – instituição da qual ele foi eleito presidente por duas vezes ao longo de seis anos.

Fonte: Graziela Costa Pinto, psicóloga, editora da coleção Mente e Cérebro

– Memória da psicanálise, publicada pela Duetto

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