Vez ou outra, nos pegamos comparando nossas vidas com as dos outros. Apesar de sabermos que a realidade de alguém é muito maior e, por vezes, mais dolorida do que aquela que fica disponível ao público, nas redes sociais e nos churrascos de domingo, é inevitável o surgimento, alguma vez na vida, de tal comparação.
Desde que somos crianças já começamos a questionar a nós mesmos e a nossos pais sobre o porquê de nosso amigo pode ir à determinada festa e nós não e, quase sempre, a resposta que recebemos é que não somos o nosso amigo e, por isso, não podemos nos comparar a ele.
Aí é que surge uma tremenda contradição: se não devemos nos comparar aos outros, por que é que somos ensinados a fazer isso desde o momento em que nascemos?
Ainda quando somos bebês, nossos pais nos comparam a outros bebês. ” O fulano tem um aninho e já começou a andar, quando será que meu filho vai dar os primeiros passos?”
Quando uma criança diz que não gosta de espinafre e não vai comê-lo, muitos pais, com a melhor das intenções, aumentam a voz e orgulhosamente dizem: ” Olha lá, que bonito, o fulano está comendo todo o espinafre dele!”
Isso continua até que somos inseridos em instituições de ensino, onde, na minha opinião, a forma mais cruel, e, agora, quantitativa, de comparação se instaura: nós viramos números.
Nossos nomes são ranqueados através de nossas notas. Vamos melhor ou pior que alguém no vestibular. Conseguimos desconto na mensalidade da faculdade porque nossa nota foi a melhor da turma.
Antes de nos punirmos por essa constante mania de “medir” nossas vidas através da dos outros, ou de criticar aquele que sempre olha antes a grama do vizinho para saber se pode ficar feliz com a sua, que possamos refletir acerca do quanto tudo isso não nos é ensinado.
Que me perdoem aqueles que nunca o fizeram, mas, em um mundo em que somos diariamente categorizados e classificados, que é cheio de podiums visíveis e invisíveis e em que os conceitos de “melhor” e “pior” parecem ser cada vez mais aplicados, é realmente difícil não deixar a vida do outro se tornar um parâmetro; é inevitável não olhar para o lado.
Autor: Patrícia Pinheiro
Esta é a eterna insatisfação humana, estar sempre procurando uma forma de se realizar. A comparação faz parte, pois nos mostra os caminhos de nossa satisfação sexual, pré ou genital.