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A cada idade, um sono

Crianças ficam alertas logo cedo, jovens têm dificuldade de acordar. Por que não adaptar as aulas levando em conta esses ritmos biológicos?

“Uma das mudanças que veem com a puberdade diz respeito aos horários, é o atraso de fase. Os adolescentes dormem tarde e também acordam mais tarde do que antes. Para alguns, é muito mais difícil ir para a cama às 22 horas, por exemplo”, explica Louzada. Rosangela Macedo Moura notou isso quando assumiu a direção da EE Francisco Brasiliense Fusco, na capital paulista. Às 7 horas, quando as aulas começavam, apenas metade dos alunos do 6º ao 9º ano e do Ensino Médio estava nas classes. Entre 8 e 9 horas, os que chegavam atrasados se aglomeravam no portão e ingressavam para a segunda e a terceira aulas. “Era um absurdo, todos deveriam estar presentes no início das atividades! Resolvi proibir a entrada fora de hora”, conta. O número de faltas passou a aumentar, dia após dia, e ela viu que precisava pensar em outra solução. Sabendo que a justificativa era que os estudantes não conseguiam acordar cedo, propôs uma troca de turno: as turmas de 1º ao 5º anos passariam a estudar de manhã e os maiores, à tarde e à noite. “Alguns comemoraram, outros reclamaram, dizendo que a organização da escola sempre tinha sido aquela, que bastaria a turma deixar de preguiça. Então, eu propus uma votação para os pais. Fiz forte campanha pensando naquilo que acreditava ser melhor para meus estudantes. Sabia que mudaria a rotina de professores e funcionários, mas achei que seria mais adequado para o conjunto”, conta. Por quatro votos de diferença, a alteração de turnos ganhou.

No ano seguinte, os pequenos do 1º ao 5º anos já começaram cedinho e no pique total e os maiores, então, conseguiram chegar na hora e ter mais atenção para realizar as atividades. Agora, existe a possibilidade de o ensino integral ser instituído para o Ensino Médio. Nesse caso, a diretora já tem uma ideia: “As aulas podem funcionar das 12 às 19 horas ou algo próximo a isso, por que não?”.

Confirmando o que Rosangela notou, Márcia Finimundi Nóbile analisou o desempenho de estudantes de cinco instituições públicas (cerca de 900 alunos) dos ensinos Fundamental e Médio de Farroupilha, cidade a 111 quilômetros de Porto Alegre, e escreveu os resultados na sua tese de doutorado defendida em 2012 na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). No início, ela classificou cada criança e adolescente como matutino e vespertino, conforme o período em que tinha melhor desempenho. Observou que havia mais matutinos entre os mais próximos dos 11 anos e que quanto mais próximo dos 17 anos, melhor a atuação à tarde. “Com 11 e 12 anos, os matutinos que estudavam pela manhã apresentaram desempenho superior aos matutinos que estudavam à tarde. Aos 16 anos, esse predomínio se inverteu. Conclusão: os mais jovens tendem a ser mais matutinos”, diz.

Como o sono é uma das variáveis que podem interferir no processo de ensino e aprendizagem, cabe à escola repensar de que maneira pode distribuir as atividades e se ajustar às necessidades dos estudantes. Porém, por ter um impacto assim grande na vida de alunos, professores, funcionários e famílias, mudanças como essas não podem ser feitas de uma hora para outra. “Antes de qualquer alteração, é essencial discutir com a comunidade, mostrar as razões e conscientizar todos”, diz Louzada.

Fonte: Gestão Escolar

Autor: Beatriz Santomauro

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